PRESS RELEASE
Defendemos Bicicletas nas cidades todo o ano
A Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta (FPCUB) saúda todos aqueles que das mais diversas formas aderiram a mais uma edição da ”Semana Europeia da Mobilidade” (SEM). A FPCUB tem apoiado as inúmeras iniciativas organizadas pelos associados, com o objectivo geral de continuar a sensibilizar a opinião pública e os decisores políticos (governo e administrações central e local) para a importância e necessidade de serem criadas condições seguras para a utilização da bicicleta, como alternativa ao uso do automóvel e como complemento aos transportes públicos colectivos e ao andar a pé.
Este ano a Semana Europeia da Mobilidade tem como objectivo a promoção das deslocações pendulares sustentáveis entre casa-trabalho e casa-escola através de acções que encorajem a utilização de modos de transporte alternativos como a bicicleta. Ao pretender contribuir para o descongestionamento do tráfego urbano e diminuição dos gases com efeito de estufa (GEE), resultantes na sua maioria do tráfego automóvel, a SEM pode contribuir para a melhoria da saúde e da qualidade de vida dos cidadãos (que é em muito afectada pelo ruído e poluição atmosférica).
A FPCUB foi pioneira em Portugal a promover a vertente utilitária da bicicleta em ambiente urbano, paralelamente aos fins recreativos e de lazer ou desporto. Tem também reivindicado a criação de infra-estruturas que facilitem a sua utilização, nomeadamente a disponibilização de espaço público para a circulação em bicicleta (se bem que este possa ser partilhado em alguns casos por outros utilizadores da via tais como peões e pessoas com capacidade de mobilidade reduzida em cadeiras de rodas), e para parqueamento, para além da redução da velocidade dos veículos em zonas residenciais e junto a escolas, facilidades nos transportes colectivos, e restrições ao uso do automóvel.
A própria União Europeia já referiu que “…Não se deve confundir o direito à mobilidade com o direito a utilizar um automóvel privado…” . Os automóveis têm sido responsáveis pela escassez de espaço público, consumo de recursos e energia e poluição que por sua vez prejudicam a saúde de quem vive ou trabalha em cidades. O custo económico do tráfego automóvel (já para não falar da escalada do preço do petróleo) está a atingir proporções críticas pelo que tem que ser reduzida a sua necessidade nos núcleos urbanos para que a mobilidade de todos seja facilitada.
A FPCUB reafirma que a bicicleta deve ser entendida como parte da solução para os problemas de tráfego e de ambiente nas cidades, integrada numa política geral de melhoria da qualidade de vida e da mobilidade sustentável, que pode ser executada à custa de baixos recursos financeiros e com benefícios económicos e de saúde pública, privilegiando-se conjuntamente o transporte público colectivo.
Cerca de 30% das viagens em automóvel cobrem distâncias inferiores a 3Km, que podem perfeitamente ser efectuadas por outros modos (bicicleta, a pé e de transportes públicos) desde que sejam implementadas medidas que promovam a sua utilização.
A FPCUB congratula-se com alguns avanços verificados nos últimos anos, fruto das suas iniciativas de sensibilização, nomeadamente junto dos operadores de transportes públicos, alguns dos quais já permitem o transporte da bicicleta gratuitamente (embora outros só ainda aos fins de semana e feriados). No entanto torna-se necessário instalar estruturas móveis de baixo custo nas escadarias das estações e apeadeiros para facilitar os acessos bem como reduzir gradualmente o custo adicional do bilhete para a bicicleta, tornando o seu transporte gratuito. Também muitos municípios começaram nos últimos anos a pensar na bicicleta. Se bem que ainda numa perspectiva exclusivamente de lazer ou desporto e sem serem consultados localmente os utilizadores a quem se destinam (com projectos muitas vezes desenhados por teóricos sem experiência na utilização da bicicleta) a bicicleta é quase sempre escolhida como mote das campanhas da SEM ou do “Dia Europeu Sem Carros”.
A FPCUB considera que ao fim de cinco anos do “Dia Europeu Sem Carros” em Portugal (Portugal aderiu à campanha em 2000) seriam de esperar comportamentos mais sustentáveis do ponto de vista ambiental e de cidadania, de partilha das cidades e respeito pela qualidade de vida bem como maior vizibilidade das chamadas medidas permanentes. Pelo facto considera que a promoção da utilização da bicicleta deveria ser imposta como uma componente dos diversos instrumentos de planeamento e em especial no âmbito dos compromissos assumidos em relação à emissão de GEE neste ano de implementação do Protocolo de Quioto.
Se por um lado, e como têm demonstrado “Os Dias sem Carros” os cidadãos tornam-se disponíveis para realizar deslocações curtas em bicicleta, sempre que se proporcionem condições adequadas (principalmente o aumento da segurança rodoviária e contra roubos) e por outro, e mesmo assim, o número de utilizadores urbanos continua a aumentar, estão as autarquias a desperdiçar um capital humano que poderia contribuir para a melhoria das condições de mobilidade nas cidades se elas correspondessem com as suas obrigações.
A FPCUB mantém a sua disponibilidade para auxiliar as autarquias e os diversos ministérios com as tutelas relacionadas com a bicicleta (ambiente, transportes, saúde, energia, economia, desporto e turismo) a desenvolverem políticas integradas que contribuam de forma efectiva para o uso da bicicleta como uma mais valia para a mobilidade nas cidades.
POR UMA MOBILIDADE SUSTENTÁVEL e cidades com bicicletas a circular durante todo o ano.
Setembro 2005