Há muitas e boas razões para encorajar o uso da bicicleta em Portugal. Se muitas pessoas passarem a utilizar a bicicleta isso facilitará o acesso de todos os cidadãos a vilas e cidades, será um contributo para um desenvolvimento sustentável e, não menos importante, contribuirá também para a melhoria da qualidade de vida e da saúde pública.
Nem sequer temos que inventar a solução. As cidades holandesas são frequentemente mencionadas como exemplos de boas práticas das medidas políticas que foram implementadas porque de facto os resultados dessas políticas estão à vista. Então porque razão não seguimos o caso holandês? Porque temem os políticos desenvolver políticas que beneficiariam todos? Os governantes têm que trabalhar com as ONG e as empresas que já promovem ou pretendam vir a promover a bicicleta. Muitas e novas oportunidades de negócios poderão surgir enquanto outros podem ser revitalizados. A implementação de soluções facilitadoras da utilização da bicicleta criará inúmeros nichos de mercado em muitos sectores, quer comércio e serviços, quer turismo, entre outros, beneficiando a economia. Mas para isso é necessário um conjunto de iniciativas que tornem atractiva a opção de utilizar a bicicleta para a mobilidade diária de muitos portugueses.
© Ana Louro
Na Holanda já em 2005 cerca de 27% dos cidadãos utilizavam a bicicleta diariamente quer para acesso a postos de trabalho, escolas ou serviços, quer para transporte de compras e bens, percentagem que atinge hoje os 35 a 40% em algumas cidades holandesas. Em 2003 já 38% dos cidadãos circulavam diariamente na cidade de Groningen. Com medidas simples e eficazes Portugal poderá rapidamente alterar a sua situação. Para isso será necessária uma acalmia do tráfego rodoviário e também uma alocação do espaço público para a bicicleta, com a “abertura” de espaços canal para a sua circulação (mesmo que em partilha com os peões ou com veículos motorizados, conforme os casos). Deve ser libertado algum espaço da circulação ou parqueamento automóvel, nomeadamente nos centros históricos das cidades, em largos e praças bem como feita fiscalização do cumprimento das regras que impedem o estacionamento sobre os passeios. As medidas a implementar devem ser integradas com os sistemas de transporte colectivos, devendo os operadores destes sistemas ter uma cada vez maior abertura ao transporte da bicicleta nos seus veículos de forma a servirem mais utentes. Devem ser criadas colocadas estruturas para parqueamento em locais prioritárias e também em integração com os sistemas de transporte. Paralelamente não devem ser esquecidas campanhas simples de informação e promoção das medidas criadas e de sensibilização dos automobilistas para que respeitem aqueles que decidiram deslocar-se em bicicleta (tal como para os peões). O Plano Rodoviário Nacional deve ter uma visão alargada do que é o espaço rodoviário e permitir a criação de uma carta ciclável do país. Por fim referimos o que deverá suportar a implementação destas medidas e garantir a segurança rodoviária de todos – um Código da Estrada que se aproxime mais da maioria dos códigos europeus naquilo que à utilização da bicicleta diz respeito, não “empurrando” a bicicleta para as bermas ou para as vias reservadas, não permitindo, nos centros das cidades, a equiparação a outros veículos, entre outras medidas que a FPCUB defende.