Completou-se, nos passados dias 18 e 19 de Abril, a IV Edição do Raide BTT Setúbal – Odemira – Algarve da Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta.
A grande novidade foi o seu final que, nas duas últimas edições, se situou em Querença e desta vez em Vilamoura – Quarteira.
Durante toda a semana a previsão caracterizava-se pela incerteza meteorológica. A manhã do primeiro dia acordou ainda chuvosa embora nada semelhante ao dilúvio da versão 2008. Foi nestas condições que, 41 criaturas, alinharam, nas suas bicicletas à partida (três delas eram da “tripulação”). Mais três se haveriam de juntar para a segunda etapa mas apenas 43 terminariam devido à inoportuna lesão da “guia” Sarah Moniz o que deixou, o autor destas linhas, e também guia do raide, a pedalar a solo desde São Marcos até Vilamoura, c’est la vie!
Mas vamos ao relato.
DIA 1 – SETÚBAL – ODEMIRA (18ABR09)
O início em Tróia fez-se na saída dos ferries, agora um pouco mais a sul. As condições melhoraram mas, infelizmente, o espaço é acanhado e tivemos de improvisar um local para acomodar o camião que transportou as bagagens e para efectuar o briefing inicial já que, o resto, cabia a cada grupo e ao miraculoso aparelinho de GPS que haveria de os conduzir até ao final, ao ritmo que cada um entendesse e suportasse, sem stresse, já que não havia cronómetro a pressionar.
Assim, debaixo de um chuvisco leve, mas persistente, os quilómetros iniciais até à Comporta foram iguais aos de sempre já que não há alternativa ao asfalto, embora se tenha notado uma redução saudável na intensidade do tráfego automóvel.
Na Comporta seguiram-se os habituais quilómetros pelos arrozais ao longo da Vala Real até à vila do Carvalhal que se alcançou rapidamente já que se tratava de uma longa recta que quebrou, ainda assim, a monotonia do asfalto.
De novo, há falta de alternativa, seguiu-se por asfalto pela R261, pedalando via Pinheiro da Cruz, até quatro quilómetros de Melides, virando-se para nascente, para uma estrada secundária, abordando pela primeira vez e suavemente, a Serra de Grândola, permitindo alcançar Melides de modo distinto de anos anteriores.
Seguiu-se a habitual travessia da Serra de Grândola até Santiago do Cacém com as passagens mais exigentes, do ponto de vista físico e técnico (mas curiosamente das mais agradáveis do ponto de vista paisagístico). Trataram-se da transposição dos profundos barrancos do Livramento e do Moinho. As descidas, uma e outra, são fantásticas, rápidas, técnicas e entusiasmantes e, do mesmo modo, como reverso da medalha, as subidas são lentas e penosas a exigir um empenho absoluto.
O barranco seguinte – Santa Cruz, em virtude do tempo húmido, foi substituído por uma passagem mais seca e, chegados a Santiago, foi tempo de restaurar as energias, tendo ficado na memória de muitos, as sanduíches de carne assada do posto de combustível a fazerem inveja às suas congéneres de uma célebre ligação btt deste mesmo concelho.
A paragem de almoço coincidiu com a chegada do sol. Tempo pois de prosseguir em direcção ao Paiol e daí se passar à barragem de Morgavél e à Sonega. A partir desta povoação entramos no reino da Serra do Cercal ainda que se evitassem os seus desníveis acentuados, contornando-a, suavemente, pelo seu sopé.
De novo a transposição de um profundo barranco a marcar a derradeira dificuldade física do dia. Foi tempo de passar a Vale Beijinha e daí subir até Castelão e efectuar os últimos quilómetros, pela N120 até ao merecido banho, jantar e descanso.
Dia 2 – ODEMIRA – VILAMOURA/QUARTEIRA (19ABR09)
Durante a noite a chuva foi impiedosa mas, paradoxalmente, a manhã acordou solarenga situação que perdurou até ao final do dia.
Após o “briefing” saímos de bicicleta pelo espectacular “Caminho do Mira”, um dos pontos altos do raide – um fantástico cenário natural logo pela manhã, contornando a margem direita do rio e que terminou com os pés molhados na transposição do Mira a vau. Daí subiu-se até à Portela da Fonte Santa e seguiu-se pelo magnífico tapete de asfalto que se abandonou, todavia, uns quilómetros antes de Sabóia, subido fortemente à direita para alcançar o topo do monte e das suas largas vistas antes de se empreender uma descida rápida até à povoação e daí ao Viradouro.
Seguiu-se a bela ligação até Pereiras-Gare com a ferrovia à esquerda e o ribeiro à direita proporcionando alguns dos melhores momentos fotogénicos do raide até porque, alguns dos participantes, foram brindados com a passagem do Intercidades. De Pereiras até São Marcos da Serra seguiram-se dois decâmetros de serra pura, quente e penosa, com um punhado de rompe-pernas diabólicos a complicar um pouco a entrada no Algarve
De São Marcos em diante, em terrenos um pouco mais desafogados, cruzaram-se, pelo menos, uma dúzia de ribeiras, já para não falar do Rio Arade, a serra cruzada para nascente, no troço escolhido, é relativamente benévola na sua altimetria excepto a ascensão a Santa Margarida e a Alte que, apesar de asfaltada, é longa, penosa e a exigir empenho.
Nesta pitoresca localidade tomámos um novo rumo – Sul, em direcção ao mar, se bem que o melhor ainda estava para vir. Primeiro a ligação a Paderne, por estradas municipais e, aí chegados, subir o seu morro e abordar a ligação ao famoso castelo e daí pelos single-track que acompanham as suas secas margens. A passagem da ponte medieval marcou novo ponto alto da travessia. Foi tempo de sacrificar a velocidade à diversão e, durante um punhado de quilómetros, de passar por autênticos túneis na vegetação e de transpor as suas margens apeado ora para um, ora para outro lado.
Após se cruzar a perigosa e movimentada N125 chegámos a Vale Carro seguindo então até à zona da Praia da Falésia, ao Hotel Alfamar e aos Foros de Quarteira onde tomámos um troço da Ecovia do Algarve que termina junto à ponte pedonal que transpõe a Ribeira de Quarteira junto à sua foz.
Aqui entramos no reino turístico e glamouroso de Vilamoura e o final do raide foi absolutamente delicioso rolando, ao sol, através da sua marina em glória, houve até quem, tendo chegado relativamente cedo, tenha optado por desfrutar o Verão antecipado sentado numa esplanada a saborear copos de cerveja.
O final situou-se, um quilómetro adiante, já em Quarteira, na Escola Secundária D. Dinís para os banhos e a refeição após mais de 265 esforçados quilómetros.
No final havia um clima de satisfação generalizada o que para muito contribuiu o dia de sol e a escolha de troços.
Texto de Pedro Roque de Oliveira
Fotos da equipa Salta Pocinhas