O que é o fumo passivo?
O fumo passivo corresponde à inalação involuntária, por um não fumador, do fumo de tabaco. São sinónimos «fumo ambiental», «tabagismo passivo», «poluição tabágica ambiental» ou «fumo em segunda mão».
A exposição ambiental ao fumo do tabaco é responsável por problemas de saúde. Podem ocorrer certas patologias «de novo» ou agravarem-se as preexistentes.
O que se passa no ambiente quando se fuma um cigarro?
Ao acender um cigarro são progressivamente libertados para a atmosfera mais de 4000 compostos químicos, sob a forma gasosa e particular. Muitos destes compostos são tóxicos e alguns deles existem mesmo em maior percentagem no ar ambiente do que no fumo inalado pelo fumador. Ao fumo expirado pelo fumador junta-se o fumo da combustão do próprio cigarro.
O fumo ambiental não para à porta do quarto ou do escritório. Quanto maior a concentração de fumo ambiental existir numa sala maior o risco para a saúde dos não fumadores. O tipo de ventilação, o número de fumadores, o número de cigarros fumados, a cubicagem da sala, tudo é importante para o impacto final.
Uma criança que inala o fumo de tabaco num carro de janelas fechadas encontra-se em grave risco ou um empregado não fumador de um bar mal ventilado – em oito horas de trabalho pode respirar tanto benzopireno (produto cancerígeno) e monóxido de carbono (tóxico) como se tivesse fumado 30 cigarros!
Que efeitos tem o fumo passivo na saúde?
A informação científica que temos é clara.
O fumo passivo é um factor causal de doença e de morte entre os não fumadores.
Efeitos comprovados:
• Eventos coronários (+ 25%) e mortalidade associada às doenças cardiovasculares;
• Cancro do pulmão (+ 26%), cancro dos seios nasais;
• Indução e exacerbação de asma e de bronquite nas crianças;
• Infecções respiratórias nas crianças (+ 72% se a mãe fuma,+ 29% se outro familiar fuma);
• Otites médias recidivantes na criança (+ 48% se ambos os pais fumam);
• Irritação ocular e nasal nos adultos;
• Síndrome da morte súbita do lactente (risco duplo);
• Atraso do crescimento intra-uterino (+ 11% se a grávida for fumadora passiva);
• Baixo peso ao nascer (-7 % se a grávida for fumadora passiva).
Efeito provável:
• Diminuição das funções pulmonares;
• Cancro do colo do útero;
• Impacto adverso na cognição e no comportamento;
• Abortos espontâneos.
A mulher grávida, o recém-nascido, a criança e o jovem, pelas suas especiais vulnerabilidades, correm especiais riscos ao inalarem o fumo do tabaco e ao observarem à sua volta o comportamento tabágico dos fumadores.
Como se comprova que o fumo ambiental tem impacto nos não fumadores?
De há muito que é possível demonstrar laboratorialmente a existência de cotinina urinária (um derivado da nicotina) em não fumadores próximos de fumadores. Também se quantifica a nicotina no ambiente.
Os diagnósticos de certas patologias realizados em não fumadores, caso do cancro do pulmão, são uma comprovação indirecta.
Existem níveis de poluição tabágica ambiental (PTA) inofensivos?
A resposta é não. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) considera 50 ppm como a concentração máxima de monóxido de carbono que pode ser atingida em ambientes de trabalho fechados. Em locais onde se fuma este valor é muito ultrapassado. No final do dia, em alguns restaurantes onde se fuma este valor pode ultrapassar 1000 ppm e em recintos com muitos fumadores, como bares e discotecas, já têm sido detectados valores da ordem de vários milhares de ppm de monóxido de carbono.
Se pensar que 1/3 da sua vida é passado no emprego e cerca de 80% em espaços fechados, compreende-se porque é que a OMS considerou a PTA como o maior agente de poluição do meio ambiental interno.
A ventilação forçada resolve a PTA?
A resposta é negativa. Segundo os peritos a tentativa de «limpar» a atmosfera da PTA ou controlar os seus níveis, seja mediante a renovação mecânica da ventilação, de processos químicos ou filtração, é infrutífera.
A única solução eficaz para se conseguir um ambiente isento dos poluentes do fumo é abolir completamente o consumo de tabaco nesses locais.
QUER SABER MAIS ?
• Action on smoking and health
• U.S. Environmental Protection Agency
NOTA FINAL
O fumo passivo ainda não está na ordem do dia em Portugal.
Nos espaços públicos fechados ainda se fuma à vontade. Os fumadores, por falta de informação e formação, não valorizam o prejuízo que causam aos não fumadores, especialmente aos mais vulneráveis – crianças, grávidas, idosos e doentes.
É altura de os diferentes intervenientes – estado, organizações da sociedade civil, líderes de opinião e cidadãos em geral se consciencializarem de que todos temos direito e vantagem em respirar um ar saudável.
Aos profissionais de saúde, pela responsabilidade acrescida que têm, é-lhes pedido um esforço exemplar.
Prof. Luis Rebelo, presidente da COPPT
(Confederação Portuguesa de Prevenção do Tabagismo)